21/08/2008

Diferente...

Ontem fui à feira, coisa que não fazia há meses, senão mesmo anos.

Adoro percorrer os corredores das feiras, sobretudo as zonas dos ciganos (lol) e aos dos produtores agrícolas, onde se vêm pessoas mais velhas a vender as coisas que eles próprio produzem no quintal...

Adoro os cheiros, os pregões, as frases que se vão apanhando aqui e ali das conversas dos grupos com quem nos cruzamos...

No meio de tantas tendas, encontrei a de um senhor que vende artigos de retrosaria e mais mil coisitas pequenitas a que acho imensa piada.

Não resisti e comprei dois fechos de correr, linha para alinhavar e duas canelas. Queria também ter comprado alfinetes de cabeça, mas o homem disse que não sabia onde os tinha guardado... - Começa a ficar bastante composto o meu atelier de costura. Pelo menos no que diz respeito a material e informação (comprei recentemente o livro “A costura tornada fácil”, da Burda, mas falo dele noutro dia).

A dada altura, fui abordada por uma cara que não me era estranha... parecia a R., amiga q.b. dos tempos de liceu, mas estava diferente... Perdeu as sardas, o ligeiro rubor nas bochechas, estava mais magra e a voz também mudou... Hesitei um pouco antes de arriscar o nome dela e ela disse que também não tinha a certeza se era mesmo eu, porque também estou diferente. Mas disse-o de uma maneira...

Eu sei que tenho uma boa dose de “mania da perseguição”...

Já não estava com ela há 10 (!!!!) anos. Como o tempo passa.... Lembrei-me de como eu era naquela altura. Gorda (não que hoje seja magra, longe disso, mas era mais gorda do que sou agora), introvertida, imensamente triste e com um “buraco” no peito, um vazio que me atormentava permanentemente e que ainda hoje luto por afastar.

No 10º ano andámos sempre juntas; a partir do 11º ano ela afastou-se voluntariamente. Acho mesmo que chegou a dizer-me qualquer coisa sobre não querer andar sempre comigo, o que me magoou muito na altura...

Não a condeno. Eu era tão triste, tão atormentada com a situação que se vivia na minha casa... Devia ser mesmo péssima companhia...

Mas agora estava ela ali, à minha frente, tantos anos depois...

Eu, claro, só disse disparates, como é meu hábito... Mais vale estar calada, quando tento parecer bem, feliz, mais extrovertida...

Vai casar-se este ano, em Outubro. Desejei-lhe os parabéns e muitas felicidades.

Parecia que nunca mais ia cada uma à sua vida. Queria afastar-me. Aquele “estás diferente” estava a martelar-me na cabeça...

Quando, horas depois, passei à frente de uma montra e apreciei o meu reflexo, vi mesmo o quanto estou diferente. Não me reconheci naquela pessoa de olhar triste que me olhava do outro lado do vidro. Como se aquela não fosse eu...

Há dias em que os nossos pequenos sonhos e planos se esfumam assim... através de um encarar demorado do nosso reflexo...

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