13/08/2010

As malas do ouro...



O meu avô foi, durante anos, ourives ambulante na zona da Beira Baixa.
Durante semanas seguia de aldeia em aldeia, em cima da sua bicicleta, mala verde de folha presa atrás, em busca de quem quisesse comprar objectos em ouro ou relógios.
Segundo conta, dormia por onde calhava: umas vezes em pensões, outras em casa de amigos que ia fazendo, às vezes em celeiros.
Muitos enriqueceram a fazer este trabalho. Ele nem por isso. Só nos últimos anos de actividade trabalhou por conta própria, já a venda de ouro se tinha tornado menos rentável.
Ainda consegue enumerar as aldeias por onde passou e os nomes dos amigos que fez em cada uma delas. Até o que cada um lhe comprou!
Quando eu era miúda, deu-me uma das suas malas do ouro, onde ainda guardo as centenas de cartas que fui trocando com as minhas amigas. É a mais pequena da fotografia. Há uns meses deu-me a maior. Ainda tinha dentro um cartão expositor onde os objectos de ouro eram cosidos, algumas etiquetas e daquelas caixinhas pequeninas de plástico, de oferta, com o nome do meu avô gravado na parte superior.
O marido queria restaurá-las, dar-lhe uma nova pintura. Mas eu não aceitei. Limpei-lhes apenas o pó e coloquei-as na nossa biblioteca, em duas prateleiras que parecem feitas para as albergar.

1 comentário:

  1. As recordações dos avós são das melhores coisas que podemos ter :) fizeste bem em manter as malas no seu estado actual, eu faria o mesmo

    ResponderEliminar