Vindo do coração..

Há vários meses que o M. tem consultas semanais de terapia da fala.
Já pronuncia muito melhor algumas palavras (já diz 'este' e não 'ete' ou 'buscar' e não 'bucar', por exemplo), mas há sons que lhe são mais difíceis de pronunciar, como o 'r' quando se lê 'rr', o 'g' e o 'f'.
Com tempo e algum trabalho lá chegará!
Como as consultas são a meio da tarde, nem sempre posso ir eu com ele, ou o pai. Às vezes vai a minha mãe, como aconteceu esta semana.
Bem, ele anda agora a explorar o 'r' no meio das vogais e a seguir a uma vogal e uma das palavras da folha de exercícios que ele tinha de pronunciar era "grávida".
Tenho as minhas dúvidas quanto a ele a ter conseguido pronunciar, por causa do 'g', mas parece que ele soube explicar muito bem o seu significado.
Disse à terapeuta que a avó já tinha estado grávida, já tinha tido na barriga a mãe (eu sou a mais velha), a tia X e a tia Y.
E acrescentou que ele, por outro lado, não esteve na barriga da mãe, mas sim no coração.
A espontaneidade e naturalidade com que falou parece que deixou a terapeuta sem fala.

Fico muito contente por saber que ele vê a sua história com naturalidade. Tenho medo da altura em que ele deixará de a encarar assim. Que ele sofra por não ter tido um percurso de vida inicial igual ao dos outros meninos.
Tenho medo dos efeitos que a discriminação possa ter nele. Sim, porque ela já existe, ele é que ainda não se apercebeu.
Às vezes sinto-o debaixo de holofotes. Parece que tudo o que ele faz e tudo o que ele diz é analisado em demasia, como se não fossem comportamentos normais de um menino de cinco anos cheio de energia, mas sinais da futura delinquência ....