16/08/2008

"Volto às 15H00"

Hoje é o meu último dia de trabalho. Amanhã começam duas semanas de (merecidas) férias.
Estou sozinha no escritório. O resto da equipa está de férias/de folga/de baixa.
Como a minha secretária não é na sala principal, imprimi uma folha A4 a dizer: "Aberto, por favor toque à campainha" e colei-o na porta de entrada. Assim posso tê-la fechada e evito a preocupação constante de que alguém entre e leve alguma coisa sem que me aperceba.
Das três pessoas que cá apareceram, duas seguiram a indicação que está no papel. Apenas uma abriu a porta e entrou sem quaisquer cerimónias. Precisamente a responsável pelo episódio que relato abaixo.


Num destes dias em que tinha um trabalho marcado para as 14H00, deparei-me com um papelinho na porta da empresa em questão que dizia "Volto às 15H00", colado com fita-cola.

Não achei muita piada ao recado, até porque tinha muita pressa e não tinha planeado esperar uma hora ao sol por uma entrevista que nem sabia bem se se iria concretizar. Mas como não tinha por onde escolher, sentei-me num degrau da entrada e pus-me a apreciar os jardins das casas vizinhas.
Às 15H10, chegou a pessoa com quem eu queria falar (homem), de bicicleta, e começou logo a tratar-me por tu, como se me conhecesse, o que, diga-se, detesto.
Mas vá... afinal, sempre me conhecia, de pequenina, como ele fez questão de sublinhar, logo depois de enumerar uma série de pessoas da minha família.

Pôs a chave na fechadura, abriu a porta e, antes de entrarmos, tirou com todo o cuidado o recado que tinha colocado na porta. Entrámos e, enquanto ele se justificava pelo atraso, ia esticando a fita cola com uma pinça, com todo o cuidado. Associei aquela minúcia à profissão dele - relojoeiro.
Era tal o cuidado com que esticava os dois pedaços de fita-cola que acabei por me abstrair do que ele dizia. Fixei-me apenas na pinça e na forma hábil como ele a manuseava.
Assim que esticou os dois pedaços de fita-cola, encostou-os a um armário e colou lá o recado, num espaço que, diga-se, parecia reservado para ele. Foi quando reparei que o recado era apenas um numa fila de recados todos semelhantes que começavam em "Volto às 10H00" e terminavam em "Volto às 18H00". Todos colados lado a lado à espera da altura em que o seu autor saísse e os colasse na porta de entrada da empresa e, de regresso, os voltasse a colocar no armário.
Que coisa estranha! - pensei - O homem não deve ter nada que fazer! Ou então leva o lema da poupança de recursos ao limite!

Daqui a pouco, quando for embora e tirar o papel da porta, conseguirei colocá-lo no lixo?

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